Maternidade/Maternagem Solo e a Culpa da Ausência Paterna
"Acredito, que a maior parte dessa porcentagem de mulheres, já se culparam
pela ausência paterna. Atribuindo-se ela, afetiva ou financeira. O sentimento de
culpa, na maioria das vezes vem aflorar-se nos primeiros meses de gestação (...)"
Mais de 80% das crianças têm como primeiro responsável uma mulher. 50% dessas crianças são negras. 5,5 milhões dessas crianças não têm o nome do pai no registro de nascimento. Os dados de pesquisas publicados nos últimos anos pelo IBGE demonstram a sobrecarga para o sexo feminino e a ausência paterna na educação dos filhos.
60% das mulheres negras, são mães solo. 25% são mães durante o período da adolescência. Sabemos que existe uma diversidade entre configurações de família. Mas o modelo do qual falo, é do relacionamento heterossexual.
É fato que as diversas razões da ausência paterna, seja falecimento do pai, afastamento decorrente de separação conjugal, derivada da atividade laboral, ou ausência emocional de um pai fisicamente presente podem ser percebidas pelos filhos de formas diferentes. O modo como um filho sente a ausência paterna implicará, por certo, em diferentes repercussões em seu desenvolvimento. De modo geral,
são percebidas como negativas dada a importância do pai no desenvolvimento de crianças e adolescentes (Sganzerla & Levandowski, 2010).
Acredito, que a maior parte dessa porcentagem de mulheres, já se culparam pela ausência paterna. Atribuindo-se ela, afetiva ou financeira. O sentimento de culpa, na maioria das vezes vem aflorar-se nos primeiros meses de gestação. O afastamento do "progenitor", a ausência de uma companhia para exames de pré-natal, a primeira ultrassonografia, a escolha pelo nome da criança, a compra
do enxoval, dentre outras. Carregar esse peso, sendo mulher negra e periférica, diante de uma sociedade racista, machista e sexista. Ser julgada pela sua cor e gênero, juntamente com a autoculpa. Os olhares alheios, ao interrogarem pela suposta paternidade, mesmo que não identificada. A pergunta pela paternidade SEMPRE é a primeira a surgir.
A ausência paterna é nítida também, nos relacionamentos afrocentrados, o homem negro, que reproduz essa ausência afetiva e financeira, que teve de seu pai. Mantendo essa masculinidade tóxica. Não excluo, o peso que o homem negro carrega perante esse sistema opressor, o patriarcado que lhe sufoca. Porém, com todas as questões envolvidas, inclusive as raciais. O homem negro, ainda ocupa um lugar de privilégio de gênero mantendo a heterogeneidade, diante da mulher negra.
A sobrecarga da mulher negra, na educação solo de um filho (a). Sendo, que a maior parte das mulheres negras, possui mais de dois filhos. As dores para ensinar seus filhos negros a se defenderem do racismo. Combater o racismo institucionalizado. A culpa pela ausência paterna implica cruelmente na vida da mulher negra.
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